quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Papai, Fernão Capelo Gaivota e Marcos


Lá em casa nas tardes de sábado, eu e papai íamos ao cinema, porém certa vez,na porta do cinema, olhei para o filme em cartaz, e minhas pernas magrelas se recusaram a acompanhá-lo, travei emburrada que não queria ver um filme que só haviam gaivotas, com toda paciência, o senhor Antonio se abaixou até seu rosto encontrar o meu e me explicou que era um filme muito especial, e que se eu conseguisse prestar atenção e tentar ser como Fernão, a gaivota do filme seria mais ainda um orgulho para ele.



Não entendi nada que ele falou, dessa vez fiz um enorme bico com meu lábios, e cruzei meus braços na altura do meu peito.


Papai com sua sabedoria enorme , me fez mudar de idéia, na fração de segundo após me informar que no dia seguinte , sobre minha cama estaria um lindo presente.


Entramos finalmente no cinema, e o filme começou,e aquelas gaivotas iam e vinham com aqueles ruídos intermináveis, frases eram ditas sem que eu prestasse atenção a nenhuma delas.Na verdade era como se em meu corpo um exército de formigas passeassem pelo meu sangue.

Nunca fiquei mais desesperada para ir embora como naquela tarde.
Passado alguns anos, papai me comprou de presente o livro Fernão Capelo Gaivotas,olhei para ele e com um sorriso muito forçado agradeci, e de novo ele insistiu para que eu lesse.

Na verdade nunca soube onde escondi o livro para papai esquecê-lo. Que pena, papai foi embora,mas ele me trouxe seu livro de volta.

No ultimo mês, estava voltando de viagem ,estava sozinha, entrei no avião e me sentei na poltrona do corredor da fileira do meio, um menino se sentou na outra ponta da mesma fileira, e começamos a conversar, era Marcos um garoto de 21 anos,riamos pois enfrentaríamos 10 horas de voo, e torcíamos para que ninguém sentasse entre nós para sobrar algum espaço para a longa viagem.

Marcos me contou de seu ultimo ano, do seu trabalho, de sua namorada,e da sua família.
Depois colocou seus óculos e apanhou " A Cabana", para ler, olhei curiosa,pois não seria bem um título para um moleque "baladeiro" como ele.

Ele ia começar sua leitura, porém retirou seus óculos, me olhou demoradamente, e decidido, me "comunicou" que tinha um livro que eu deveria ler, e antes mesmo de eu dar uma explicação ,pois não tinha intenção nenhuma de cruzar o oceano,lendo algum título sem graça, se levantou abriu o bagageiro e fuçou entre suas coisa, até puxar um velho livro, que me entregou .

Sem graça agradeci, procurei meus óculos, e finalmente pude ler o título "Fernão Capelo Gaivotas".
Decidi que havia chegado a hora de ler o livro de papai.

A cada pagina entendia o que sempre papai tentava me explicar,o quanto devemos tentar melhorar sem dar importância para sermos iguais as pessoas de nossa "tribo", mesmo que não sejamos iguais, mesmo que não nos aceitem por sermos diferentes, porque podemos ser melhores sempre.

Seguir os mesmos padrões que uma sociedade impõe não te faz melhor pessoa....
Que pena....que livro lindo deixei para trás por tantos anos....

Terminei o livro,olhei para Marcos e ele sorriu.

Lilian Bariani Romano




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